quarta-feira, 30 de março de 2011

Marítimo II


“Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.”

Fernando pessoa

Um soneto que fosse como o mar:
estrutura de sal e ventania
cuja cor acompanha a luz do dia,
cujo humor acompanha a luz lunar. 

Um soneto que fosse como o mar:
tentador para aquele que o vigia,
mil perigos, contudo, propicia
ao incauto que o tenta atravessar.

Um soneto que fosse como o mar,
que ao erguer-se ante a rocha, sem cessar,
a desgasta e a transforma em areal.

Também possam meus versos, à maneira
do oceano, bater contra a pedreira
d'alma humana e tirar dela o seu sal.

Wedmo Mangueira

quarta-feira, 23 de março de 2011

Marítimo I

Ante o céu que se tinge de encarnado 
à medida que a luz do sol desmaia, 
para o mar, que se lança sobre a praia, 
lanço a luz de um olhar desconsolado. 

Um homem triste quedou-se ao meu lado... 
Os marulhos serenos da Atalaia 
devem ter - não sei bem - algo que atraia 
as pessoas de olhar atormentado. 

Ele, então, contemplando atentamente 
o oceano gigante à nossa frente, 
me falou no seu quase-sussurrar: 

“Todo aquele que tem o olhar aflito 
deveria mirar o infinito 
e sentir quão pequeno é seu penar.” 

Wedmo Mangueira - 27/11/2008 


Imagem: Ponta dos Mangues, por Thatiana Carvalho

Madrugada

- Alô?

- Saudades...

- ...

- Quem era, amor?

- Engano!

Wedmo Mangueira