segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Os olhos


"se um gesto me definisse seria o de te afastar o cabelo para te ver melhor o rosto que me enche de bravura

e só te vejo pelos meus olhos por serem os que te vêem mais bela
por isso os escolho sempre
tenho os olhos feitos à medida da tua cara
e só tenho olhos para ti
quando não estás sou invisível e quase invisual
a visão não me serve de nada
vejo mas sem cor e é pior que a preto e branco
é desfocado
é esbatido
e sem chama
e sem cheiro
contigo cheira bem
sabe bem
ouve bem o que digo porque é sincero porque se não fosse todo eu era falso
cada falso que há aí merecia cadeia ou morte
mas com os teus braços finos a fazer as vezes da corda que me serpenteia o pescoço para me matar de felicidade

e só te quero a ti
e só te vejo a ti como a última noite do Verão mais quente
com o céu mais estrelado
com a lua mais cúmplice
com os gestos mais carinhosos
e tiro-te o cabelo da frente com a ajuda da minha mão direita que só existe para isso
e vou para te beijar mas não o faço
hesito porque os meus olhos pediram-me que os deixasse olhar para ti mais uma vez
e eu deixo para eles não chorarem muito"

João Negreiros

sábado, 9 de outubro de 2010

Correnteza

Primeiro lugar no II Prêmio de Poesia Popular João Sapateiro, que tinha por tema: "Os 150 anos de João Ribeiro".

Quem diria que algum dia,
numa terra situada
entre morros e colinas,
entre vales e baixadas,
um menino nasceria
e teria a poesia
como rota, como estrada.

Tinha nome de riacho
- se chamava João Ribeiro.
Foi, talvez, devido a isso
que, na vida, o seu roteiro
sempre foi seguir em frente,
feito um fio de água corrente
indo a outro paradeiro.

Sua terra de nascença,
que o acolheu tão bem,
é a bela Laranjeiras
do profano e do amém,
do poeta Sapateiro,
que, a exemplo de Ribeiro,
se chamava João também.

Eis, então, que a mesma terra
que lhe foi berço e morada
teve de assistir um dia,
de maneira inesperada,
à partida do menino,
que, seguindo seu destino,
começava sua jornada.

Se lançou no Cotinguiba
e rumou pra capital,
concluindo no Ateneu
todo o seu ginasial.
Logo após foi pra Bahia,
onde, em pouco tempo, iria
procurar outro local.

Desistindo de cursar
medicina em Salvador,
foi pro Rio de Janeiro
e por lá se dedicou
com afinco ao jornalismo
e mostrou seu brilhantismo
também sendo professor.

Lançou obras importantes,
tidas como geniais.
Foi, por isso mesmo, eleito
pra ser um dos imortais,
figurando bem ao lado
de Romero, de Machado,
de Nabuco e outros mais.

Mas a imortalidade
que lhe foi atribuída,
incapaz foi de impedir
que lhe abandonasse a vida
e que sua trajetória
recheada de vitórias
fosse, um dia, interrompida.

Quando o seu corpo cansado
foi de encontro ao leito frio,
seu destino de ribeiro
fatalmente se cumpriu:
afastou-se da nascente
e, tal qual um afluente,
foi morrer em outro Rio.

O seu canto, entretanto,
não perecerá jamais.
Passa o rio, mas não passa
a beleza que ele traz.
Mesmo após ele partir,
poderemos sempre ouvir
os seus versos imortais.

Wedmo Mangueira – 06/09/2010


Link da matéria sobre a entrega da premiação: http://www.laranjeiras.se.gov.br/ler.asp?id=135&titulo=noticias

Confira aqui os outros poemas vencedores: http://www.laranjeiras.se.gov.br/ler.asp?id=136&titulo=noticias

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Equitação

Velo a sombra
que a tarde revela;
e um crepitar de chama
me chama
para a tua sela
- égua branca
no prado da cama.

Nuno Júdice