terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Naufrágio


Embora tenha nome de mulher,
corpo e cheiro de mulher
e os trejeitos e perigos
permitam supor que se trate de uma,
é mais que mulher...
É mar revolto, na verdade,
essa menina à minha frente.

Pudesse eu ser promontório,
avançaria seco ao seu encontro
e mergulharia em seus domínios,
apreendendo-lhe medos e mistérios.

Fosse-me vedado tocá-la,
contentar-me-ia em ser farol,
para, ao menos, contemplá-la à distância,
velando-lhe o sono,
protegendo-a de velhos marinheiros.

Contudo, ao fitar tanta beleza,
que mais posso querer ser,
senão nauta atrevido,
para poder passear por suas águas,
entregar-me a seus movimentos noturnos,
naufragar em meio aos seu recifes,
enroscar-me em seus sargaços
e amanhecer feliz e inerte em sua costa nua!

Wedmo Mangueira