quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

NÊNIA

A morte nada foi para ele, pois enquanto vivia não havia a morte e, agora que há, ele já não vive. Não temer a morte tornava-lhe a vida mais leve e o poupava de desejar a imortalidade em vão. Sua vida era infinita, não porque se estendesse indefinidamente no tempo mas porque, como um campo visual, não tinha limite. Tal qual outras coisas preciosas, ela não se media pela extensão mas pela intensidade. Louvemos e contemos no número dos felizes os que bem empregaram o parco tempo que a sorte lhes emprestou. Bom não é viver, mas viver bem. Ele viu a luz do dia, teve amigos, trabalhou, amou e floresceu. Às vezes anuviava-se o seu brilho. Às vezes era radiante. Quem pergunta quanto tempo viveu? Viveu e ilumina nossa memória.


De: CICERO, Antonio. A cidade e os livros. Rio de Janeiro: Record, 2002, p.57.

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Dedico as belas e oportunas palavras de Antonio Cicero ao meu avô, de quem herdei o nome, que faleceu há pouco.

3 comentários:

Messias disse...

Meu velho, como nunca mais te encontrei no msn, estou mandando o recado por aqui mesmo. Você, que, como eu, é um grande apreciador do trabalho do Paulo César Pinheiro, no DVD Samba Social Clube 4 tem uma homenagem bem interessante a ele. Eu já comprei, qualquer coisa gravo para você. Abraços

Anônimo disse...

Para mim, que perdi ontem um colega da TV ATalaia, subitamente, aos 31 anos, este texto veio bem a calhar.
Abração, grande Wedmo!!!!
Álvaro Müller

Anônimo disse...

Sinto muito pela perda. Bem escolhidas as palavras de homenagem.