segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Os rios atônitos


(Ouvindo "Kongo", por Miriam Makeba)

Há palavras a dormir sobre o seu largo
assombro
Por exemplo, se dizes Quanza ou dizes Congo
é como se houvesse pronunciado os próprios
rios
Ou seja, as águas
pesadas de lama, os peixes todos e os perigos
inumeráveis
O musgo das margens, o escuro
mistério em movimento.
Dizes Quanza ou dizes Congo e um rio corre
Lento
em tua boca.
Dizes Quanza
e o ar se preenche de perfumes perplexos.
E dizes Congo
e onde o dizes há grandes aves
e súbitos sons redondos e convexos.
E dizes Quanza, ou dizes Congo
e sempre que o dizes acorda em torno
um turbilhão de águas:
a vida, em seu inteiro e infinito assombro.

José Eduardo Agualusa

O escritor angolano José Eduardo Agualusa surgiu na década de 90 como um dos nomes de ponta da nova literatura africana (romancista, contista, poeta) em língua portuguesa e um dos autores mais importantes surgidos em Angola na última década. Nasceu a 13 de Dezembro de 1960 na cidade de Huambo, planalto central de Angola. Estudou Agronomia e Silvicultura e residiu, desde os seus tempos de estudante até época recente, em Lisboa. Atualmente, Agualusa reside no Rio de Janeiro, Brasil. É jornalista e membro da União de Escritores Angolanos.

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