
Martelando na peleja
Segundo lugar no Prêmio de Poesia Popular João Sapateiro
Cantador nordestino, num martelo,
Cantador nordestino, num martelo,
sobre assunto qualquer faz improviso.
Para tudo que existe, se preciso,
cria sempre algum verso tão belo.
Quando empunha a viola num duelo
contra algum oponente não fraqueja.
O seu canto é cutelo que verseja
desferindo o cruel mote amolado.
Cantador de martelo agalopado
martelando oponentes na peleja.
Um martelo bem feito é mais que prece
na viola afinada do repente.
Se ajoelha depressa o oponente
quando escuta o martelo que merece,
tão potente que, às vezes, se parece
com trovão no sertão quando troveja,
com serpente no chão quando rasteja,
ou bezerro no berro malcriado.
Cantador de martelo agalopado
martelando oponentes na peleja.
Cantador nordestino noite afora,
carregando a viola, não tem medo,
caminhando sozinho no lajedo,
se brincar, faz tremer até caipora.
Nego d'água até mesmo se descora
quando escuta a cantiga sertaneja
e o saci, assustado, saculeja
com a força do seu palavreado.
Cantador de martelo agalopado
martelando oponentes na peleja.
Se a palavra sozinha é perigosa,
mais cortante que lâmina afiada,
imagine a palavra recitada
num martelo certeiro em mote e glosa.
Some a isso a garganta poderosa,
que em duelo nem mesmo pestaneja,
pois duelo é somente o que deseja,
e teremos, portanto, um arretado
cantador de martelo agalopado
martelando oponentes na peleja.
Wedmo Mangueira
Nenhum comentário:
Postar um comentário