sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Trecho de um dos contos mais bonitos que já li


Não tiveram que limpar seu rosto para perceber que era um morto estranho. O povoado tinha apenas umas vinte casas de tábuas, com pátios de pedra sem flores, dispersas no fim de um cabo desértico. A terra era tão escassa que as mães andavam sempre com medo de que o vento levasse os meninos, e os poucos mortos que os anos iam causando tinham que atirar das escarpas. Mas o mar era manso e pródigo, e todos os homens cabiam em sete botes. Assim, quando encontraram o afogado, bastou-lhes olhar uns aos outros para perceber que nenhum faltava.

Gabriel García Márquez, O afogado mais bonito do mundo


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Imagem: Foto de Ponta dos Mangues por Thatidye

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