terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Ausência

Hei de edificar a vasta vida
que mesmo agora é teu espelho:
toda manhã hei de reconstruí-la.
Desde de que te afastaste,
tantos lugares se tornaram inúteis
e sem sentido, como
luzes no dia.
Tardes que foram nicho de tua imagem,
músicas em que sempre me esperavas,
palavras daquele tempo,
eu terei de quebrá-las com minhas mãos.
Em que profundezas esconderei minha alma
para que não enxergue tua ausência
que como um sol terrível, sem ocaso,
brilha definitiva e impiedosa?
Tua ausência me cerca
como a corda o pescoço.
O mar em que naufraga.

BORGES, Jorge Luis. Primeira poesia. Trad. de Josely Vianna Baptista. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.

Um comentário:

tatiana hora disse...

que lindo!
e ah, eu já senti isso..