quarta-feira, 30 de março de 2011

Marítimo II


“Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.”

Fernando pessoa

Um soneto que fosse como o mar:
estrutura de sal e ventania
cuja cor acompanha a luz do dia,
cujo humor acompanha a luz lunar. 

Um soneto que fosse como o mar:
tentador para aquele que o vigia,
mil perigos, contudo, propicia
ao incauto que o tenta atravessar.

Um soneto que fosse como o mar,
que ao erguer-se ante a rocha, sem cessar,
a desgasta e a transforma em areal.

Também possam meus versos, à maneira
do oceano, bater contra a pedreira
d'alma humana e tirar dela o seu sal.

Wedmo Mangueira

2 comentários:

joelbagsilva disse...

Sou feita de açúcar, mas às vezes me cobrem de sal. Dá uma mistura exótica, mas prefiro que seus versos me devolvam o doce...

Aglacy Mary disse...

Movimento intenso, intento alcançado.